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27/07/2017

Queda do volume do Lago de Furnas assusta empresários e turistas

O ritmo de esvaziamento do lago da Represa de Furnas, no Sul de Minas, está tão acelerado que tem preocupado o setor turístico. De acordo com a associação das empresas de turismo do reservatório, duas das quatro principais atrações estão prestes a ficar inacessíveis por meio aquático: a Cascatinha e o Cânion dos Tucanos. Mas bares flutuantes e atracadouros para barcos e lanchas também foram afetados e ou estão distantes de seus pontos originais ou encalhados. Trabalhadores e turistas reclamam que a hidrelétrica de Furnas tem liberado mais água que o de costume para a época de estiagem (maio a outubro), quando praticamente não há mais chuvas para recargas.

Como consequência, o volume médio útil do lago cai a cada mês (veja quadro). Pior: a quantidade de água que sai do reservatório é mais que o dobro da que chega: 571 metros cúbicos por segundo contra 236m3/s, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) relativos a segunda-feira. O volume útil da mesma da data, o último dado divulgado pelo ONS e pela Agência Nacional de Águas até as 18h de ontem, era de pouco mais de um terço da capacidade: 38,72%, o que explica a indignação de quem sobrevive do turismo ou pesca nas águas da represa. Já a empresa que administra a hidrelétrica informou que a prioridade do lago é a geração de energia, e que opera de acordo com as determinações do ONS.

Represa tem hoje pouco mais que um terço do volume útil, o que tornou rampas de acesso inúteis e ameaça tráfego de embarcações (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Represa tem hoje pouco mais que um terço do volume útil, o que tornou rampas de acesso inúteis e ameaça tráfego de embarcações (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

Uma das atrações mais procuradas em Furnas é a Cascatinha, uma cachoeira que é encontrada depois de se vencer as intrincadas passagens pedregosas dos cânions, e que desce por mais de 25 metros entre paredões irregulares. O caminho para chegar até a queda d’água é muito estreito e pedras que ficam no fundo podem danificar as embarcações, pois já estão visíveis, a cerca de meio metro de profundidade. “Neste ritmo que a represa vem baixando, a um palmo por dia, na semana que vem não conseguiremos mais chegar na Cascatinha, que é a segunda maior atração do nosso programa turístico”, disse o vice-secretário da associação dos trabalhadores do setor de turismo, Ricardo Nascimento Morais.

Quando as lanchas de passeios desta que é uma das lagoas com a maior frota da América Latina se aproximam da cachoeira que desemboca na represa, precisam passar por uma área que tem muitas rochas fechando um circuito que na seca é perigoso e até impede a aproximação, dependendo da profundidade atingida. “Se nada mudar, da semana que vem em diante já não poderei vir mais, porque uma hélice danificada me custa R$ 2 mil e outras peças podem chegar a R$ 12 mil se toparem com uma rocha no raso”, disse Ricardo, também dono da empresa turística Minas Passeios Náuticos, uma das mais requisitadas do lago.

A outra atração prejudicada é o Cânion dos Tucanos, um dos menores, mas mais bonitos entre as formações rochosas conjugadas em labirinto com as águas represadas do Rio Grande. Lá, o nível já est´pa tão baixo que troncos submersos da vegetação encoberta quando a represa foi formada despontam nesta época, deixando o trajeto dos barcos ainda mais perigoso e cheio de obstáculos, ao mesmo tempo que evidenciam a seca abrupta do reservatório. “Há uma semana essas árvores ainda não tinham aparecido ainda, agora, não sei se poderei trazer pessoas aqui na próxima semana, pois a insegurança aqui é enorme”, disse Ricardo.

Várias rampas de lançamento de embarcações já estão expostas além da área construída, o que cria a necessidade de ancoradouros flutuantes, que podem avançar pelo leito seco adiante. Até os bares com dispositivos para boiar, projetados para sofrer menos com o isolamento durante a estiagem, têm sido prejudicados, de acordo com os proprietários, devido a baixa de nível ser rápida demais, o que acaba deixando as estruturas encalhadas.

Para uma família de turistas de Rio Claro (SP), os sinais preocupam, pois as belezas que testemunharam em lanchas pelos cânions impressionaram. “Achei tudo aqui lindo demais e seria uma pena as pessoas de um momento para outro não poderem desfrutar de tudo isto. É um dos lugares mais lindos que já vi aqui no Brasil”, disse a artesã Luciana Amado, de 44 anos. O marido dela, o autônomo Paulo Amado, de 44, disse que ficou impressionado, mas também preocupado. “Achei tudo aqui muito lindo e estava programando a vinda do ano que vem com as crianças, mas realmente a gente percebe que já está dando para ver o fundo do lago. Isso pode preocupar para uma próxima vinda”, disse.

Procurada para se manifestar sobre a preocupação do setor turístico, a empesa Furnas informou que suas “usinas hidrelétricas são componentes do Sistema Interligado Nacional e sua operação é planejada e programada pelo ONS”. “Os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS, responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética”, acrescentou.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Ao informar que sua represa tem como objetivo prioritário a geração de energia elétrica, Furnas acrescentou que “a ocupação para fins comerciais e turísticos do entorno do reservatório ocorreu de forma espontânea por empreendedores locais que buscaram aproveitar o potencial de negócios que se apresentou no lago”. Segundo a empresa “Furnas é um reservatório de regularização e opera enchendo no período chuvoso (novembro a abril) e sendo esvaziado na estiagem (maio a outubro)”, o que permite a produção de energia o ano todo e o fornecimento de água rio abaixo. Procurado pelo Estado de Minas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico não retornou aos contatos.

Via EM

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